E nem precisa de pipoca: Transcender Cinema!

Precisamos falar de Cinema!

Precisamos tencionar a apropriação do cinema na escola, não como instrumento educativo, mas como ferramenta da imaginação cotidiana. Uma percepção de cinema enquanto ferramenta pedagógica multidisciplinar, fonte de cultura e agente transmissor de conhecimento. Arte que estimula o senso crítico, estético, cultural e artístico!

O cinema na escola, ao despertar a reflexão e a imaginação, constitui-se como elemento singular entre a sensibilidade e a compreensão, porque nos inspira a possibilidade da criação na transformação do pensamento e do espaço-tempo-matéria. Segundo Albert Einstein “a imaginação é mais importante que o conhecimento” porque, segundo ele mesmo, a “imaginação abrange o mundo inteiro”, e ir além, nos leva a outros ‘mundos’.

Um dos aspectos, constantemente, refletidos pelo cinema da sala de aula, é o de se questionar a própria Educação e como ela pode apenas estar perpetuando a dominação de determinados grupos no poder em detrimento de outros. Ainda neste aspecto, podemos constatar a atualidade brutal dos estudos e pensamentos de Hannah Arendt e Walter Benjamin ao nos interrogarem acerca da legitimidade dos sistemas educacionais atuais e nossa história e que também perpetuam o ódio e a discriminação como algo banal. “[…] a tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é a regra” (BENJAMIM, 1994, p.228).  

A Educação é um processo contínuo que envolve comunicação e diálogo entre sujeitos que buscam superar o saber que possuem, e a Escola é um dos elementos estreitamente vinculados às necessidades orgânicas de preservação ou ruptura da ordem social. Sendo assim, é preciso enfrentar desigualdades sociais e regionais, o que requer do professor, incorporar em si, que “Educar é responsabilizar-se” (ARENDT, 1955).

O encontro do cinema com a educação reforça a ideia de que educação é socialização! Educação é política! Além de se criar a possibilidade de se trazer à tona, e avultar reflexões poderosas que podem revelar ou desvelar circunstâncias da própria história e seus dimensionamentos sociais, culturais, estruturais e políticos.

Bergala (2008) em “A hipótese cinema” defende que não é possível ensinar cinema, mas iniciar o espectador à arte do cinema, ao se promover o “Minuto Lumière”, na importância da experiência individual e no encontro com a alteridade, ao compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, sensibilizado a partir da experiência do contato.

“A arte, para permanecer arte, deve permanecer um fermento de anarquia, de escândalo, de desordem. A arte é por definição um elemento perturbador dentro da instituição. Ela não pode ser concebida pelo aluno sem a experiência do ‘fazer’ e sem contato com o artista, o profissional, entendido como corpo ‘estranho’ à escola, como elemento felizmente perturbador de seu sistema de valores, de comportamentos e de suas normas relacionais”. (BERGALA, 2008: p.30).

E também atentos aos pensamentos de Godard, que considera que “A Arte é exceção, a Arte não é regra!”, é neste sentido que o cinema não possa ser ensinado, mas vivenciado. Uma concepção, que nos mostra que é necessário levar o cinema para a sala de aula, tanto para vislumbre e amplitude dos campos de conhecimentos – multidisciplinar e dialógico, quanto para o deleite, o fascínio, o estranhamento, o prazer, a delícia, o gozo, a inspiração, a admiração, a repulsa e a observação do espectador!

Cinema é Arte, que faz o professor expandir o espaço-tempo e ir com os estudantes, pra além das paredes da sala de aula!

O cinema em sua dinâmica da imagem e do olhar humano sobre sua própria orientação, movimento, equilíbrio e forma, é um vislumbre da Educação como ‘ato para a liberdade’[1]. Neste contexto, “ser professor é estar sempre se fazendo, num permanente constituir-se. […] Professores são contemporâneos de seu próprio tempo e contexto, como também são memória” (TEIXEIRA, 1996. p.181).

O Cinema, mesmo sendo pouco, ou até mal, utilizado por alguns professores, possibilita e estimula TRANSCENDER[2] nossas limitações e condição físicas e psicológicas, ao nos fazer sair do lugar onde estamos, viajar por lugares que nunca (ou que só) imaginamos e sonhamos, e para o mundo dos sonhos e da arte, não há limites!

PS.: Hum… e nem precisa de pipoca, mas o barulhinho bom e o cheirinho dela, nos remete à infância, à fantasia e as novas descobertas!

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[1] Homenagem à Paulo Freire “A Educação como ato para a Liberdade”

[2] Sobre a transcendência – ver Paulo Freire, em “A Educação como ato para a Liberdade”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA

ARENDT, Hannah. A condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.

BERGALA, Alain. A hipótese-cinema. Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Tradução: Mônica Costa Netto, Silvia Pimenta. Rio de Janeiro: Booklink – CINEADLISE-FE/UFRJ, 2008.

BENJAMIN, W. Sociologia. 2.ed. Trad., introd. e org. Flávio Kothe. São Paulo: Ática, 1991.

_____. Sobre o conceito da História. In: Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e História da Cultura. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994, pp. 222-232;

DAYRELL, Juarez. Múltiplos Olhares sobre Educação e Cultura / Juarez Dayrell, organizador. – Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996.

DUARTE, Rosália. Cinema & educação: refletindo sobre cinema e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2002

GLÓRIA, Maria da. Empoderamento e participação da comunidade em políticas sociais. Saúde e Sociedade.