Amor com Prazo de Validade
Queridas, não tenho como poupá-las, o que passo a narrar agora, não há imprensa que cubra, a fofoca vai correr entre a gente mesmo. Vamos começar a distribuir as senhas!
Vamos lá….
Trabalhei anos a fio em um laboratório. Ali foi uma experiência em muitos campos. Permeei entre hemácias e helmintos e já me familiarizava com aqueles desenhos e formas estranhas. Eu já cumprimentava pares e ímpares, adotando aqueles desenhos como preferidos “animados”!
Salário pouco animador.
Sentada para aquele café “na hora” (não da hora), eis que surge uma colega, toda esfuziante:
– Anima ir ao Caribe?
-O que????
(A princípio achei que era uma cantada, afinal o mais perto era um Motel, poucos quilômetros do centro)
– Bom, mas caribe mesmo????
_ Sim fiz umas economias, achei um pacote promocional!
(Gente, caribe era o paraíso impossível na época)
Eu, nem com todas as economias, teria como. Cheguei a propor a ajudá-la com as malas até ao aeroporto e já chegaria longe demais.
Microscópio ao lado, exames feitos, hora de ir para casa, previsão de trânsito animadora!
Hora de pico resolvi fazer uma horinha. Saquei de minha bolsa a Revista Nova da Editora Abril, assinante assídua!
Logo na capa:
Faça uma viagem de seus sonhos! Concurso cultural – “Qual foi a maior loucura que você já fez por amor”
Cruzeiro ao caribe, vale compras, Miami, etc.
No automático – ACHO QUE ESSA LOUCURA, SERÁ A MINHA PRIMEIRA!
Foi como relâmpago. Peguei um papel de pão que ainda estava na mesa, e com uma caneta em punho fiz o manuscrito . Foi mais fácil que fazer economias, ah, sim!
Dobrei aquilo, enfiei no bolso da calça como aquele cartão de loteria, que você compra, acha que tem chances, mas a preguiça é maior. Quem acaba conferindo mesmo é a confiante máquina de lavar.
Chegando em casa, roupa já no ponto para o destino, o papel cai, meu marido pega como se fosse Money. Achou estranho, foi lendo. Não me falou nada. Dois dias depois ele me parece com o texto digitado. Envia, disse ele. Você tem grandes chances.
Achei meio delirante, mas não custava endereçar. Pombo correio aceitou a empreitada.
Tirei minhas férias,e sempre mais curtas que deveria, a volta sem impactos. Rotina, serviço sem muito movimento, telefone insistente, funcionário tomando café, resolvo atender.
Sem mais delongas: Ligação da edição da revista Nova da Editora Abril. Achei que era um trote de minha prima. Voz idêntica. Mas quando listou os endereços, não tive outra escolha, era acreditar mesmo sonhando.
– Parabéns vencedora!
– Segundo ou terceiro lugar, perguntei;
– Primeiro, por unanimidade!!!
Bom, as fichas só caíram nas entrevistas, fotos, etc.
Confesso que até hoje ainda sobraram algumas…
Mas quem resiste a uma loucura? ( eis o dito texto quase empanado)
Quando vi aquele homem, meu sábado já não seria como os outros. Fiquei boquiaberta, coração disparado. Eu não conseguia disfarçar a emoção que eu sentia diante daquela figura que no meu inconsciente não era de um estranho: Era o homem da minha vida!
Eu já nem me lembrava o que estava fazendo naquela lavanderia quando ele, apressado, pegou um terno de linho e me perguntou as horas. “Aterrizei”, mas quando foi embora, eu não conseguia pensar, falar de outra coisa. Precisava apalpá-lo para ver se existia mesmo.
O domingo foi o dia mais longo que pude viver, mal podia esperar o dia seguinte. Minha noite, não tinha espaço para outros sonhos. Só queria reencontrar, meu “príncipe encantado”. Parti para a luta: contando com minha astúcia e perspicácia, em três dias estava de posse de seu endereço. Prendi minhas longas madeixas, sem maquilagem e com muita coragem e determinação me apresentei como lavadeira autônoma. Ele hesitou, mas inventei uma estória que o convenceu. Que loucura! (Eu que até então só tinha lavado minhas calcinhas)
Fiquei um ano e dois meses buscando suas roupas em domicílio, o que para ele só facilitava pois era solteiro e sozinho. Eu, lógico, não lavava uma peça de roupa, levava todas para um bairro distante, pagava o dobro e cobrava a metade só para vê-lo duas vezes por semana.
Enlouquecida de paixão, um sábado que tinha tudo para ser comum, frequentei o melhor salão. Vestida impecavelmente, bati à sua porta com uma trouxa de roupas. Ele ficou me olhando com a oitava maravilha do mundo. Convidou-me a entrar pela primeira vez (até então não fazia distinção entre mim e uma parede). Tomamos um drink e entre um gole e outro, contei a ele toda a verdade: a de uma bióloga que queria preservar seu amor à primeira vista, que não queria que esse sentimento tão peculiar entrasse em extinção. Lavei minha alma. Hoje, continuo vendo esse homem, só que bem próximo, pois casamos em setembro de 1986. São nove anos de roupa lavada em casa!
Voltando ao blog…
E ai leitoras?
Podem recolher as senhas …
Detalhes da viagem, numa próxima!
Obs.:
Hoje, 2020, uma filha de vinte oito anos, um neto de oito.
Segundo casamento, segunda maior loucura; aos 54 anos engravidei de um casal de gêmeos!
NESTA IDADE?
Porque não??? SIMMMMM!!!
DÊ-ME MAIS UM PEDAÇO DE PAPEL DE PÃO…. COM DATA DE VALIDADE!
e…..
#vamosquevamos!
Júlia, a vida é um livro com páginas em branco que você está escrevendo maravilhosamente .O céu é o seu limite:é uma pessoa que faz acontecer,que sonha mas não fica só dormindo rsrs Estou admirada com a sua viagem e história de amor do passado .E da história de amor recente e dessa gravidez divina com 54 anos eu só tenho gratidão de fazer parte .
Querida,há histórias que nascem dentro de outras e se multiplica ao limite do imaginável….Em algum ponto há muitos encontros com pessoas que as lêem , uma interseção, uma coincidência, um detalhe procurado ou mesmo acidental. Não há como tirar ninguém do enredo quando o referido ponto jamais será um final. A história estica, Poderá ser contada de muitos jeitos e serem levadas para si. São como as próprias idéias ,elas não podem ser possuídas , elas pertencem a quem quer que as compreendam..
Obrigada por todos os incentivos e créditos na Rhesolutra com seu jeito resoluto de ser….
Benvinda sempreeee!!!!
Sou a Amanda Da Silva, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.
Muito dinâmico este texto, começa com a rotina [num emprego em que não há realização plena], porém a criatividade permite o plano do sonho [onde é narrada a fantasia de amor que alcança a conquista real da viagem]. Muito interessante essa “tensões” o ‘sonho’ gerado dentro da ‘rotina’, depois a ‘imaginação’ conquistando a ‘viagem real’, e como conclusão o mistério do prazer ‘ocultado’ [o que aconteceu na viagem], enfim o depois desses 3 planos, o quarto plano que é a gravidez de gêmeos aos 54 anos, mas junto com isso o retorno á criatividade e imaginação “dê um pedaço de papel com data de validade”. Há outras possibilidades de título num contexto tão amplo e múltiplo: a gravidez de 54 anos se torna simples devido a ‘ganhar um concurso de viagem pro caribe devido a uma redação feita no intervalo de um emprego monótono’. Maravilhoso texto, também poderia se chamar DANÇA DA VIDA ou BAILE DOS CONTRASTES, TRILHANDO O CAMINHO CRIATIVIDADE, SALTANDO SOBRE O IMPREVISÍVEL, e por último SIMPLISMENTE AMO E SIGO EM FRENTE. Santo Agostinho deixou esta frase “ame e faça o que tu queres”.