A GOSTO DE CADA UM

Estou indo!

– Para onde?

Não sei…

Deixe-me ir sem rumo, é a primeira vez que faço isso.

Sabe de uma coisa?

Outro dia, por acaso entrei no Mercado Central. Logo de cara, comprei uma cesta parecendo vime, mas era de um capim maravilhoso entrelaçado. Alças bem compridas. Segui feliz, pela estrada a fora, nos labirintos diversificados do espaço, muito bem sozinha.

O paladar do dia tinha gosto de infância, nostalgia e uma grande expectativa de algo novo.

Bom aqui preciso abrir um parêntese;

O cheiro do Mercado é algo inexplicável…

Há os que sentem mais um cheiro de uma coisa, outros de uma mistura.  É de cada um a sensação e ninguém se atreve a definir. Apenas sente com muita propriedade.

Bom, sigo com minha cesta…

Hoje é o dia!

Sem lobos ou vovozinhas, eu vou experimentar sem culpas, muitas iguarias, pensei!

Era a primeira vez que eu fazia isso!

Com meu coração flexível, fui enchendo o cesto com todas as frutas exóticas que encontrava (sob meu ponto de vista, é claro). Uma de cada espécie, para ser mais exata. 

Quando eu passava de uma banca a outra, era como se eu tivesse passado de um estado a outro, num passe de mágica! Estado regional e emocional, sólido, líquido, gasoso.  Era uma magia, um frio no estômago, típico de quem vai provar algo que só existia em ilustrações, contos, universos inatingíveis. Cada fruta um planeta único que me convidava, era de dar inveja ao pequeno príncipe!

Tive a impressão que eu estava em uma cena de um filme…

Eu era a protagonista, a coadjuvante, os figurantes. Atuava , dirigia, telespectadores, a imprensa, os críticos e analíticos. Um estado de alerta, meio insano, mas uma felicidade sem moderação!

Lá estavam elas, desfrutáveis…

Pareciam quietas e frenéticas na cesta que mal conseguia abraçar a todas.

Cheirosas e esquisitas, lindas e pouco convidativas, feias e carismáticas, peludas, carecas, coloridas e nude.

Estranhas, estilosas, divertidas! Enrugadas, lisas. Caricatas, originais. Camufladas, exibidas. Sistemáticas, leves, soltas, simpáticas…

Cheias de si, repletas de mim!

Pronto, cheguei em casa e aqui ou lá… permito-me não contar a vocês….

Um show à parte, um gosto que não consigo dividir.

Umas escolhidas, outras elegidas, outras insuportáveis, umas para sempre outras nunca mais(?)

Uma cesta que me trouxe pomares de mil lugares, novos ares enfim!

Descobri a igualdade nas diferenças e vice-versa. O que é cobiçar e o que é conquistar. O que não pode ser mudado. O que é essencial. O que por fora é uma coisa por dentro outra, o que nos faz experimentar para ver se gosta. O que não gostamos e não há como nos obrigar.

É bem certo que passamos a vida amando muito e de várias formas, mas o amor mais sincero é o que temos pela comida. Ruminamos, degustamos, aprovamos, reprovamos. NÃO engolimos o sal com cara de quem tá engolindo açúcar.

Agora sei disso.

É a primeira vez que sinto isso!