Caixas, Contextos e Conteúdos

Sempre tive um fascínio por caixas desde muito miúda. E talvez as miudezas me instigavam, pois adorava fuçar nas caixas de costura de minha avó. Havia caixas também proibidas, que ela guardava lá no alto de um guarda roupas manco, meio empenado. Só ela se arriscava a mexer. Agora vejo com bons olhos que essa impossibilidade foi meu primeiro exercício de imaginação. De caixinhas de fósforos, sapato a remédios fui fazendo uma decoração bastante genuína, mas que retratava com todo respeito, minha criatividade. Minha mente que até então sem muita ocupação, ganhava espaço naquele contexto por menor que fosse a caixa da vez.

Hoje as caixas também me escolheram. Acho que aprendi a guardar seus segredos. E a elas eles pertencem; mesmo quando totalmente abertas.

Talvez na minha adolescência, se houvesse WhatsApp eu abriria um grupo que encaixasse as caixas. Mas certamente perderia todo o fluxo da intenção. Elas seriam virtuais cheia de um vazio falante. Perderia a textura, o toque das mãos, o brilho no olhar de quem dá e recebe seus conteúdos.

Hoje tenho esses canais e ainda me encontro olhando curiosa e faceira para o pico do guarda roupas da minha avó onde aquela caixa ainda existe.

Temos hoje caixas incríveis, pessoas enigmáticas que também as olham com toda conspiração …

Então adoro presentear e as caixas não me deixam falar sozinha. Dão seu recado e se sentem confortáveis onde são recebidas.

Nessa longa estrada conheci apenas três pessoas (e se estão lendo sabem que estou apontando o dedo) as quais   identifiquei no grupo que não são grupos, são únicas em sua criação. Guardam as mesmas fechadas em seus   corações bem abertos.

Como as identifiquei?

Presenteando, tecendo caixas e entregando mais que isso…

Inspiração!

E a primeira delas, me disse que aprendeu muito com minhas caixas. Nela cabem casa, jardins, poesia, querubins….

A segunda, mais recente, trabalha caixas maravilhosas as quais a primeira já fez sua encomenda para presentear quem as mereça. Ela as faz sorrir, muito antes de abrir!

Estágio das delicadezas…

Amo caixas. Sinto e vejo o olhar de encanto de quem realmente as quer receber. Não se trata apenas de um presente, são lembranças presentes em que a gente começa a guardar logo de cara, só de pousar os olhos. Imagino que pessoas loucas e românticas como eu, que se apropriam das caixas que as impressionaram, mesmo elas estando fora de seu alcance.  Perdemos também nas escolhas quando muitas são tão convidativas e seu custo nem tanto. Mas não custa levá-las em pensamento esperançoso e por tempo indeterminado!

Nas caixas cabem tudo que queremos e podemos. Imaginárias ou não. Mimos que separamos, tesouros diários que não podem ser achados ou perdidos. Joias que dependeram apenas de um rabisco no papel para terem um valor inestimável…

Brota um sorriso no rosto pelo conteúdo que começa na decoração cheia de significados e estilos que irão abrigar nossas escolhas, temporárias ou não. Carregam em si o dom de nos fazer donos de um tesouro imaterial. Já imaginamos o que poderemos colocar ali antes mesmo do espaço apresentado. Cabem sonhos de qualquer tamanho. A caixa passa a pertencer o imaginário para sempre.

Duvido que alguém não se lembre de uma caixa, mesmo que no reservado de sua clausura.  Quem esqueceu certamente ainda não recebeu…

Aposto todas as fichas! E fitas e laços que ainda esperam por caixas que certamente nascerão do amor e da arte de surpreender, inclusive a nós mesmos!