MUDEI DE IDEIA
Amanheci com uma vontade danada de falar com alguém. Tempo fechado, algumas retrospectivas, um olhar de preguiça, e um café expresso.
Uma tristeza gostosa, codinome “colo” seja bem-vindo…
Ninguém, nem indo nem vindo. Resta-me um céu vespertino que me tem à sua disposição. Eu queria ver mais que aquilo, mas diante da imensidão, precisaria de alguém para me ajudar nessa tarefa também. Imaginei até onde eu poderia me levar, assim meio na dúvida mesmo.
A visão do meu quarto é panorâmica. Mas neste dia, definitivamente não era dia de chão. A conversa era entre céus. Céu da boca e boca do céu. Horizontalmente meio torta, eu estava num tapete sintético, cheio de sínteses, acolhedor a seu modo. Subi o olhar sem nada exigir para o espaço que tentava se definir. Um céu azul quase boreal, de configuração levitante, via que eu o inventava, mas havia algo maior que me avalizava. Comecei a brincar com símbolos na minha falta de assunto. Vi uma cobertura de mar e chantily sobre minhas inquietudes. Flocos de algodão, carneiros e rostos de pouca precisão. O movimento era quase estático. Fixamente, fui me auto hipnotizando. Sabem, quando uma câmera dispara ‘N’ vezes e conseguimos só ouvir o disparo repetitivo? Aí começamos a apagar de uma em uma a mesma e inerte imagem e com a ‘borracha eletrônica’, também é apagado o interesse.
Uma mesma self pode ser a mesma, batida em tempo real. Acontece que em fração se segundos já não somos mais os mesmos.
Essa foi minha companhia pioneira do dia. Um eu com ‘N’ possibilidades de ser diferente.
E não estava sozinha.
E foi um eu atrás do outro….
Cheio de coisas para me mostrar e também esconder!
Gato roedor …
Saci centopeia…
Cavalo trolador…
Sapos besouros…
Adormeci amanhecendo e isso mudou tudo. O Cenário e o espelho que eu fazia de mim.
A VIAGEM SÓ ESTAVA COMEÇANDO…
Libero sem demora pensamentos bastante consistentes.
Só conseguimos pensar naquilo que existe? Até tentei pensar, mas impossível!
Como assim?
Um cavalo com oito patas dois rabos e um chifre rotativo existe, por exemplo?
Sim!
Montei esse cavalo, com as patas que já existiam (não inventei uma pata, descobri), os rabos idem e os chifres, sem dúvidas!
A imagem que construí, existe e patenteada pelas franquias de todas as partes!
E assim foram surgindo companhias …. Das mais exóticas, as mais comuns de mim mesma. Fui preenchendo aquele descuido com gente que estava na fila de espera há tempos. Nasce um céu escarlate no pálido céu da minha boca. Auroras boreais e austrais fazendo uma festa particular na minha bipolaridade de expectativas.
Indo e também vindo. Um campo magnético, faixas dançantes, rodando, deslizando, pontos de luz.
Era primavera!
Meu quarto cheio de cor, lá fora uma grande tela pintava.
Eu estava aquarelando meu ponto de vista que mudava sobre tantos iguais.
Quero colo, passível agora de compreender esses devaneios, destemperos saborosos.
Francamente….
E ainda há gente que acredita que inventa…
A gente não inventa, apenas se descobre!
Querida Julia, adorei interagir com sua produção de sentidos. Viajar no tempo e no imaginário e se refazer é um talento para poucos. Continue se descobrindo. Beijos
Para Sòcrates aprender era um ‘parto’, um processo dialético que terminava com a verdade [Maiêutica]. Para Platão aprender era recordar. Nós que nos situamos na pós-utopia moderna, um mundo depois de Ockam e kant, desconstruído de toda “base e estrutura” do Realismo Aristotélico. Eu concordo, agente não inventa, apenas descobre [aquilo que era para ser recordado]!